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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

 A serpente que mata e a que salva

Terça-feira, 15 de março de 2016

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 11 de 17 de março de 2016  

Se quisermos compreender a «história da nossa redenção» devemos olhar para o crucificado. No centro da reflexão do Pontífice, seguindo a liturgia do dia, esteve a imagem da serpente, portadora de uma «mensagem».

A serpente, disse o Papa, «é o primeiro animal mencionado no livro do Génesis», e é recordado como «o mais astuto». A serpente volta, e é o trecho evocado pela primeira leitura, no livro dos Números (21, 4-9) quando se narra o modo como no deserto o povo murmurava contra Deus e contra Moisés: «O Senhor enviou serpentes ardentes entre o povo. Elas morderam as pessoas e um grande número de israelitas morreu». Então o povo arrependeu-se, pediu perdão e Deus ordenou a Moisés: «Faz para ti uma serpente ardente e coloca-a sobre um poste. Todo aquele que for mordido, olhando para ela, será salvo». O Pontífice comentou: «É misterioso: o Senhor não faz morrer as serpentes, poupa-as. Se alguém era mordido por uma serpente e olhava para a serpente de bronze, conservava a vida». Portanto, a serpente fora elevada para obter a salvação. Neste ponto, seguindo ainda o desenvolvimento da liturgia do dia, Francisco retomou o trecho do evangelho de João (8, 21-30) no qual Jesus, ao debater com os doutores da lei «lhes fala claramente: “se não crerdes o que eu sou, morrereis no vosso pecado. Quando tiverdes levantado o Filho do Homem, então conhecereis quem sou”».

«Eu Sou!», explicou, «é o nome de Deus; quando Moisés pergunta ao Senhor: “Se o povo me perguntar, mas quem te manda? Quem te manda, a ti, a libertar-nos? Qual é o nome? “Eu Sou!”». Portanto: «Elevar o Filho do homem! Como uma serpente...».

O mesmo conceito foi confirmado por Jesus num trecho «dois capítulos antes», quando ele «diz aos doutores da lei: “Como Moisés elevou a serpente no deserto, assim é preciso que o Filho do homem seja elevado, para que quem acreditar nele seja salvo».

A serpente, disse o Pontífice concluindo o raciocínio, é «símbolo do pecado; a serpente que mata, mas há uma serpente que salva. E este é o mistério de Cristo».

Também são Paulo, recordou o Papa, «falando sobre este mistério, disse que Jesus se esvaziou a si mesmo, humilhou-se a si mesmo, aniquilou-se para nos salvar». Aliás, o apóstolo sugere uma expressão ainda mais forte: «Fez-se pecado». Então, se quisermos usar o símbolo bíblico, poderíamos dizer: Fez-se serpente». E é esta, disse Francisco, «a mensagem profética destas leituras de hoje. O Filho do homem, como uma serpente, “que se fez pecado”, foi elevado para nos salvar».

Por conseguinte, devemos «olhar para o Crucificado e refletir precisamente sobre este mistério: um Deus “esvaziado da sua divindade? — totalmente! — para nos salvar». Mas, acrescentou o Pontífice, «quem é esta serpente que Jesus assume sobre si para a vencer?»: a resposta lê-se no Apocalipse de João, onde se encontra o nome — aliás, observou o Papa, a serpente na Bíblia «foi o primeiro animal a ser nomeado e talvez o último» — lê-se que «foi derrotada a serpente antiga: Satanás». Portanto, o pecado — disse o Papa — é «a obra de Satanás e Jesus vence Satanás “fazendo-se pecado”». Assim na cruz ele «eleva todos nós». Por isso «o Crucifixo não é um ornamento, nem uma obra de arte cheia de pedras preciosas, como se veem: o Crucificado é um mistério do “aniquilamento” de Deus, por amor».

A serpente, explicou o Pontífice, «profetiza a salvação no deserto»: com efeito, foi «elevada e quem olhava para ela, ficava curada». Mas esta salvação, frisou, não foi realizada «com a varinha mágica por um deus que faz coisas»; mas foi realizada «com o sofrimento do Filho do homem, com o sofrimento de Jesus Cristo». Um sofrimento tão grande que levou Jesus a pedir ao Pai: «Pai, por favor, se for possível afasta de mim este cálice». Vê-se nisto «a angústia», acompanhada contudo pela expressão: «Mas seja feita a tua vontade».

É esta, concluiu o Papa, «a história da nossa redenção», «a história do amor de Deus». Por isso, «se quisermos conhecer o amor de Deus, olhemos para o Crucificado». Nele encontramos «um homem torturado, morto, que é Deus “esvaziado da divindade”, manchado, “que se fez pecado”». Eis a oração final: «Que o Senhor nos conceda a graça de compreender melhor este mistério».

 



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