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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
A CUBA, AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
E VISITA À SEDE DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS

(19-28 DE SETEMBRO DE 2015)

CONFERÊNCIA DE IMPRENSA DO SANTO PADRE
NO VOO DE REGRESSO DE FILADÉLFIA A ROMA

Domingo, 27 de Setembro de 2015

[Multimídia]


 

(Padre Lombardi)

Santidade, bem-vindo entre nós. Obrigado por mais uma vez tirar tempo para nós, depois duma viagem tão exigente e cansativa. Então, começamos imediatamente a fazer-lhe perguntas. A primeira pessoa que faz uma pergunta é esta menina aqui, que sobre ela traz escrito o número de «Times» e, por conseguinte, preparou-se muito bem sobre a sua viagem à América. Ela faz a pergunta em inglês e Mateus tradu-la para italiano e, assim, Vossa Santidade poderá entendê-la melhor.

(Papa Francisco)

Boa noite a todos, e muito obrigado pelo trabalho, porque estáveis presente em todo o lado! Eu deslocava-me de carro, mas vós... Muito obrigado.

(Elisabetta Dias, correspondente do «Time Magazine»)

Muito obrigado, Santo Padre! Sou Elisabetta Dias, correspondente do «Time Magazine». Estamos curiosos por saber: Esta foi a sua primeira visita aos Estados Unidos. Que mais o surpreendeu nos Estados Unidos, e que encontrou de diferente relativamente àquilo que se esperava?

(Papa Francisco)

Sim, era a primeira visita. Nunca tinha estado aqui. Surpreendeu-me «the warmth [o calor]», o calor do povo, tão amável: uma coisa bela e também variada. Em Washington, uma recepção calorosa, mas um pouco mais formal; em Nova York, um pouco exuberante; e a Filadélfia, muito expressiva. Três modalidades diferentes, mas da mesma recepção. Fiquei muito impressionado com a bondade, a acolhida; e, nas cerimónias religiosas, também com a piedade, a religiosidade. Via-se o povo a rezar: isto impressionou-me… e muito, muito mesmo. Foi belo.

(Elizabetta Dias)

Porventura encontrou qualquer desafio por parte dos Estados Unidos que não esperava? Qualquer provocação?

(Papa Francisco)

Não! Graças a Deus, não. Correu tudo bem. Nenhuma provocação. Nenhum desafio, nenhuma provocação. Não houve, não. Todos foram educados... Nenhum insulto, nenhuma coisa má. Não... Mas devemos continuar a trabalhar com este povo crente, como trabalharam até agora, acompanhando o povo no crescimento, nas suas coisas belas e nas suas dificuldades; acompanhando o povo na alegria e nos momentos maus de dificuldade, quando não há trabalho, quando vem a doença... O desafio da Igreja hoje é estar como sempre esteve: próxima das pessoas, próxima do povo dos Estados Unidos. Proximidade; uma Igreja separada do povo, não. Mas próxima, próxima. E este é um desafio que a Igreja nos Estados Unidos compreendeu bem! Compreendeu-o, e eu quero que o vença.

(Padre Lombardi)

Agora a segunda pergunta, feita por David O'Reilly do «Philadelphia Inquirer»: é um dos grandes jornais de Filadélfia, onde estivemos nestes dias.

(David O’Reilly, do «Philadelphia Inquirer»)

Santo Padre, Filadélfia – como sabe – atravessou um período difícil com os abusos sexuais. É uma ferida ainda aberta, em Filadélfia. Sei que muitas pessoas em Filadélfia ficaram surpreendidas por, no seu discurso aos bispos, em Washington, lhes ter oferecido consolação e conforto. Creio que muitos, em Filadélfia, teriam vontade de lhe perguntar: «Por que sentiu necessidade de oferecer consolação e conforto aos bispos?»

(Papa Francisco)

Em Washington, falei a todos os bispos dos Estados Unidos: estavam todos, de todo o país. Senti necessidade de expressar compaixão, porque aconteceu uma coisa horrível e muitos deles sofreram pois não sabiam disto; ou, quando eclodiu o problema, sofreram tanto: homens de Igreja, de oração, verdadeiros pastores... Disse-lhes que sabia que eles – e usei uma frase da Bíblia, do Apocalipse - «tinham vindo da grande tribulação»; aquilo que sucedeu foi uma grande tribulação. Mas não foi só o sofrimento afectivo. É aquilo que disse hoje ao grupo de pessoas que sofreram os abusos. Tratou-se, não diria de «apostasia», mas quase de um sacrilégio. Os abusos, como sabemos, existem por toda parte: existem no âmbito familiar, no âmbito da vizinhança, nas escolas, nos ginásios… por todo o lado. Mas, quando um sacerdote comete um abuso, é gravíssimo, porque a vocação do sacerdote é fazer crescer aquele menino ou aquela menina para o Alto, para o amor de Deus, para a maturidade afectiva, para o bem. Mas, em vez de fazer isso, o mal esmagou-a, esmagou-o. E por isso é quase um sacrilégio. Ele traiu a vocação, a chamada do Senhor. Por isso a Igreja, neste momento, é dura com isto. E não se deve encobrir; são culpáveis mesmo aqueles que encobriram estas coisas. Alguns bispos também encobriram isto. É uma coisa muito má. E as palavras de conforto não pretendiam dizer: «Estai tranquilos; não é nada». Isto não! Assim se devem entender: «Foi horrível e imagino que vós tenhais chorado tanto». Neste sentido, foram as palavras. E hoje falei duramente.

(Padre Lombardi)

Muito obrigado. Agora peço a Maria Antonietta Collins e a Andrés Beltramo Alvarez que se aproximem para as perguntas seguintes.

(Maria Antonieta Collins)

O Santo Padre falou muito do perdão, que Deus nos perdoa e que frequentemente aqueles que pedem perdão somos nós. Na linha do que vi hoje no Seminário, quereria perguntar: Há muitos sacerdotes que cometeram abusos sexuais sobre menores e não pediram perdão às suas vítimas. Vossa Santidade perdoa-os? E, ainda, compreende as vítimas e as famílias que não conseguem ou não querem perdoar?

(Papa Francisco)

Se uma pessoa agiu mal, está consciente daquilo que fez e não pede perdão, peço a Deus que Se lembre dela. Eu perdoo-a, mas ela não recebe o perdão, está fechada ao perdão. Uma coisa é dar o perdão – todos somos obrigados a perdoar, porque todos nós fomos perdoados –, e outra coisa é receber o perdão. E se aquele sacerdote está fechado ao perdão, ele não o recebe, porque fechou a porta à chave por dentro, e a única coisa que nos resta fazer é rezar para que o Senhor abra aquela porta. É preciso estar dispostos a dar o perdão, mas nem todos o podem receber, o sabem receber ou estão dispostos a recebê-lo. É duro o que estou a dizer. Mas assim se explica porque há pessoas que acabam a sua vida de maneira nefasta, de maneira má, sem receber a carícia de Deus. A segunda questão, qual era?

(Maria Antoniettta Collins)

Se o Santo Padre compreende as vítimas e famílias que não conseguiram perdoar ou não querem perdoar?

(Papa Francisco)

Compreendo-as, sim. Compreendo-as, rezo por elas e não as julgo. Não as julgo, rezo por elas. Uma vez, num destes encontros, estive com várias pessoas e uma mulher disse-me: «Quando a minha mãe veio a saber que abusaram de mim, blasfemou contra Deus, perdeu a fé e morreu ateia». Eu compreendo aquela mulher. Compreendo-a. E Deus, que é melhor do que eu, compreende-a. Tenho a certeza de que Deus acolheu aquela mulher. Porque aquilo que foi tocado, aquilo que foi destruído era sua própria carne, a carne de sua filha. Compreendo-as. Não julgo uma pessoa que não pode perdoar. Rezo e peço a Deus – porque Deus é um campeão a encontra vias para uma solução –; peço-Lhe que resolva tudo.

(Padre Lombardi)

Andrés Beltramo, de «Notimex», que talvez faça a pergunta em italiano e, assim, ajuda-nos a todos.

(Andrés Beltramo, de «Notimex»)

Padre, obrigado antes de mais nada por este momento. Todos o ouvimos falar muito sobre o processo de paz na Colômbia, entre as FARC e o governo. Agora temos um acordo histórico. O Padre sente-se, em certa medida, parte deste acordo? Como tinha dito que pensava ir à Colômbia, quando houvesse o acordo, agora há muitos colombianos que estão à sua espera... E outra pergunta, mas pequenina: O que é que sente quando o avião parte, depois de ter vivido uma viagem assim intensa? Obrigado, Padre.

(Papa Francisco)

Quanto à primeira: quando recebi a notícia de que, em Março, seria assinado o acordo, disse ao Senhor: «Senhor, faz que cheguemos a Março, que se chegue lá com esta boa intenção», porque ainda faltam pequenas coisas, mas a vontade existe. Existe de ambos os lados. E mesmo por parte do pequeno grupo, existe. Todos os três estão de acordo. Temos de chegar a Março, ao acordo definitivo. Este era o ponto de chegada da justiça internacional, como sabe. Fiquei felicíssimo. E senti-me parte, no sentido que sempre quis isto, falei duas vezes com o presidente Santos do problema, e a Santa Sé – não só eu, mas a Santa Sé – mostra-se amplamente disponível para ajudar, tanto quanto possível.

Quanto à outra coisa. Esta é um pouco pessoal, mas devo ser sincero. Quando o avião parte depois duma visita, vêm-me à mente os olhares de tantas pessoas e dá-me vontade de rezar por elas e dizer ao Senhor: «Vim aqui para fazer alguma coisa, para fazer bem; talvez tenha feito mal, perdoa-me. Mas guarda toda esta gente que me viu, que pensou nas coisas que eu disse, que ouviu, mesmo aqueles que me criticaram, todos...» Sinto isto. Não sei porquê. Vem-me. Mas – desculpe-me – é um pouco pessoal: isto não se pode dizer nos jornais.

(Padre Lombardi)

Muito obrigado. Thomas Jansen, da CIC, isto é, agência católica alemã.

(Thomas Jansen)

Santo Padre, queria fazer-lhe uma pergunta sobre a crise migratória na Europa: muitos países estão a construir novas barreiras de arame farpado. Que diz deste processo?

(Papa Francisco)

O senhor usou uma palavra: «crise». Entra-se num estado de crise depois dum longo processo. Este é um processo desencadeado há anos, porque as guerras donde as pessoas escapam, fogem, são guerras que já têm anos. A fome: a fome é fome de anos... Quando penso na África – é um pouco simplista, mas digo-o como exemplo –, vem-me ao pensamento: a África, o continente explorado. Os escravos, iam apanhá-los lá, e depois os grandes recursos... O continente explorado. E agora, por detrás das guerras tribais e não, há interesses económicos... Eu penso que, em vez de explorar um continente, um país ou uma terra, é preciso fazer investimentos, para que aquelas pessoas tenham emprego; e assim se evitaria esta crise. É verdade que se trata duma crise de refugiados – como eu disse ao Congresso – nunca vista depois da última guerra mundial; é a maior. O senhor pergunta-me acerca das barreiras. O senhor sabe como terminam os muros. Todos. Todos os muros caem… hoje, amanhã ou depois de 100 anos. Mas cairão. Não é uma solução. O muro não é uma solução. Neste momento, a Europa vê-se em dificuldade, é verdade. Devemos ser inteligentes, compreender por que vem toda aquela onda migratória, e não é fácil encontrar soluções. Mas, com o diálogo entre os países, devem encontrá-la. Os muros, nunca são solução; pelo contrário, as pontes sim, sempre, sempre. Não sei que mais dizer. Que penso sobre os muros, sobre as barreiras? Durem pouco tempo ou muito, não são uma solução. O problema permanece, permanece até com mais ódio. Aqui está o que penso.

(Padre Lombardi)

Jean-Marie Guénois, de «Figaro», pelo grupo francês.

(Jean-Marie Guénois)

O Santo Padre não pode obviamente antecipar os debates dos Padres Sinodais. Sabemos isso perfeitamente. Mas é precisamente deste tempo antes do Sínodo que queremos saber se, no seu coração de pastor, quer verdadeiramente uma solução para os divorciados novamente casados. Também queremos saber se o seu Motu Proprio sobre a facilitação da nulidade fechou – na sua opinião – este debate. E, finalmente, que responde àqueles que temem, com esta reforma, a efectiva criação do chamado «divórcio católico». Obrigado.

(Papa Francisco)

Começo pela última. Na reforma dos processos, da modalidade, fechei a porta à via administrativa que era aquela por onde podia entrar o divórcio. Pode-se dizer que estão errados quantos pensam no «divórcio católico», porque este último documento fechou a porta ao divórcio que podia entrar – teria sido mais fácil – por via administrativa. A estrada existente será sempre a via judicial. Depois passamos à terceira questão – não me lembro se era a terceira, mas corrija-me...

(Jean-Marie Guénois)

Sim, a pergunta era sobre a noção de «divórcio católico» e se o Motu Proprio encerrou um possível debate no Sínodo sobre este tema.

(Papa Francisco)

Isto foi pedido pela maioria dos Padres Sinodais no Sínodo do ano passado: agilizar os processos, porque havia processos que duravam de 10 a 15 anos. Uma sentença, e outra sentença; depois se houvesse apelação, tínhamos a apelação e depois havia outra apelação... Nunca mais termina. A dupla sentença, quando era válida [a primeira] e não havia apelação, foi introduzida pelo Papa Lambertini, Bento XIV, porque na Europa Central – não digo o país - existiram alguns abusos e, para os impedir, ele introduziu isto. Mas não é uma coisa essencial para o processo. Os processos mudam; a jurisprudência muda para melhor, melhora-se sempre. Naquele tempo, era urgente fazer aquilo. Depois Pio X quis agilizar e fez qualquer coisa, mas não teve tempo ou possibilidade de o fazer. Os Padres Sinodais pediram isto: a agilização dos processos de nulidade matrimonial. E fico por aqui. Este documento, este Motu Proprio facilita os processos no tempo, mas não é um divórcio, porque o matrimónio é indissolúvel quando é sacramento; e isto, a Igreja não o pode mudar. É doutrina. É um sacramento indissolúvel. O procedimento legal é para provar que aquilo que parecia sacramento não foi um sacramento: por falta de liberdade, por exemplo, ou por falta de maturidade, ou por doença mental... Muitos são os motivos que levam, depois dum estudo, duma investigação, a dizer: «Não, ali não houve sacramento; porque, por exemplo, aquela pessoa não era livre». Um exemplo (agora não é tão comum, mas em alguns sectores da sociedade é comum – pelo menos era-o em Buenos Aires): os matrimónios, quando a namorada ficava grávida. «Tendes de vos casar». Em Buenos Aires, eu aconselhava fortemente os sacerdotes, quase os proibia de fazerem o matrimónio nestas condições. Chamamos-lhe «os matrimónios à pressa», para salvar todas as aparências. E o bebé nasce, e alguns matrimónios correm bem, mas não há a liberdade! E depois correm mal, separam-se... «Eu fui forçado a fazer o matrimónio, porque devia encobrir esta situação». Esta é uma causa de nulidade. Existem muitas causas de nulidade; podeis procurá-las na Internet, estão lá todas. Depois, temos o problema das segundas núpcias, dos divorciados que fazem uma nova união. Vós lede o que está no Instrumentum laboris, aquilo que se apresenta para discussão. Parece-me um pouco simplista dizer que o Sínodo... que a solução para estas pessoas é que possam fazer a comunhão. Esta não é a única solução. Não. Aquilo que o Instrumentum laboris propõe é muito mais. O problema das novas uniões dos divorciados não é o único problema. No Instrumentum laboris, há tantos. Por exemplo: os jovens não se casam, não querem casar-se. É um problema pastoral para a Igreja. Outro problema: a maturidade afectiva para o matrimónio. Outro problema: a fé. Creio eu que isto é «para sempre»? «Sim, sim, eu creio...». Mas creio verdadeiramente? A preparação para o matrimónio... Muitas vezes ponho-me a pensar: para se tornar sacerdote, há uma preparação de oito anos; e depois, como não é definitivo, a Igreja pode tirar-te o estado clerical. Para te casares, que é para toda a vida, fazem-se quatro cursos, quatro vezes... Aqui há algo errado. O Sínodo deve pensar bem como se há-de fazer a preparação para o matrimónio; é uma das coisas mais difíceis. E há tantos problemas... Mas estão todos enumerados no Instrumentum laboris. Gostei que o senhor me tivesse feito a pergunta sobre o «divórcio católico»: não, isto não existe. Ou não houve matrimónio – e isto é nulidade, não existiu – ou, se existiu, é indissolúvel. Isto é claro. Obrigado!

(Padre Lombardi)

Muito obrigado, Santo Padre. Agora é a vez de Terry Moran, da «ABC News», uma das grandes redes americanas:

(Terry Moran, da «ABC News»)

Santo Padre, obrigado, muito obrigado! E obrigado também à comitiva do Vaticano! O Santo Padre visitou as Irmãzinhas dos Pobres, e foi-nos dito que quis manifestar o seu apoio às irmãs mesmo em sede judiciária. O Santo Padre apoia também aqueles indivíduos – incluindo funcionários do governo – que dizem não poder, segundo a sua boa consciência, segundo a sua consciência pessoal, ater-se a certas leis ou exercer as suas funções de funcionários do governo, por exemplo, na emissão de licenças matrimoniais para casais do mesmo sexo? O Santo Padre apoiaria estas reivindicações de liberdade religiosa?

(Papa Francisco)

Eu não consigo ter em mente todos os casos que possam existir de objecção de consciência. Mas posso dizer – isto sim – que a objecção de consciência é um direito e tem a ver com cada direito humano. É um direito e, se não se permite a uma pessoa exercer a objecção de consciência, nega-se-lhe um direito. Qualquer estrutura judicial deve contemplar a objecção de consciência, porque é um direito, um direito humano. Caso contrário, acabamos na selecção dos direitos: este é um direito de qualidade, este não é um direito de qualidade... É um direito humano. A mim sempre – isto vai contra mim! – sempre me comoveu quando, na juventude, li – e várias vezes – a obra «Chanson de Roland»: estavam todos os muçulmanos em fila e, diante deles, aparecia a fonte baptismal ou a espada, e eles tinham de escolher. Não lhes era permitida a objecção de consciência. Não estava certo; é um direito. E nós, se devemos fazer a paz, devemos respeitar todos os direitos.

(Terry Moran)

Isso inclui também os funcionários do governo?

(Papa Francisco)

É um direito humano. Se o funcionário do governo é uma pessoa humana, tem este direito. É um direito humano.

(Padre Lombardi)

Muito obrigado. Agora damos a palavra a Stefano Maria Paci, do grupo italiano «Sky News».

(Stefano Maria Paci, «Sky News»)

Vossa Santidade, na ONU, usou palavras muito fortes para denunciar o silêncio do mundo sobre a perseguição contra os cristãos, que são privados das suas casas, são expulsos, são privados dos bens, são feitos escravos e brutalmente assassinados. Agora, o presidente Hollande anunciou o início dos bombardeamentos pela França sobre as bases do IS na Síria: Que pensa desta acção militar? E, ainda, uma curiosidade: o Prefeito Marino, Presidente da Câmara de Roma, cidade do Jubileu, declarou que veio ao Encontro Mundial das Famílias, à Missa, porque foi convidado pelo Papa. Pode dizer-nos como foi? [O Capitólio esclareceu que o Prefeito Marino nunca afirmou ter sido convidado pelo Santo Padre].

(Papa Francisco)

Começo pela segunda: Eu não convidei o prefeito Marino. Fique claro. Eu não o fiz. Perguntei aos organizadores, mas nem eles o convidaram. Ele veio, professa-se católico, veio espontaneamente. Foi assim. Esta, a primeira coisa; a outra, sobre o bombardeamento. Verdadeiramente, recebi a notícia anteontem, e não li nada. Não sei bem como evoluirá a situação. Ouvi dizer que a Rússia tinha a sua posição, que a dos Estados Unidos ainda não era clara... Verdadeiramente não sei que dizer-te, porque não entendi como estão as coisas. Mas, quando ouço a palavra «bombardeamento», morte, sangue... repito aquilo que disse ao Congresso e às Nações Unidas: evitem-se estas coisas. Mas a situação política não a julgo, porque não a conheço. Obrigado.

(Padre Lombardi)

Obrigado. Agora Miriam Schmidt, da DPA (Deutsche Presseagentur), a agência alemã de informação.

(Miriam Schmidt)

Santo Padre, a pergunta que queria fazer é sobre as relações da Santa Sé com a China e sobre a situação neste país, que é bastante difícil também para a Igreja Católica. Que pensa disto?

(Papa Francisco)

A China é uma grande nação, que oferece ao mundo uma grande cultura e tantas coisas boas. Uma vez, no voo de regresso da Coreia a Roma, disse que gostaria muito de ir à China. Amo o povo chinês; gosto dele. Espero que haja a possibilidade de haver boas relações, boas relações. Temos contactos, falamos sobre isso... Espero que se avance. Para mim, ter um país amigo como a China, que tem tanta cultura e tantas possibilidades de fazer bem, seria uma alegria.

(Padre Lombardi)

Muito obrigado. E agora temos Sagrario Ruiz, de Apodaca.

(Sagrario Ruiz, de Apodaca)

Obrigado. Boa noite, Santo Padre. Pela primeira vez, visitou os Estados Unidos, nunca lá tinha estado antes; falou ao Congresso, falou às Nações Unidas, recebeu autênticos banhos de multidão... Sente-se mais forte? E quereria perguntar-lhe também, depois de o ouvirmos realçar o papel das religiosas e das mulheres na Igreja dos Estados Unidos: algum dia veremos mulheres sacerdotes na Igreja Católica, como pedem alguns grupos nos Estados Unidos e como acontece noutras Igrejas cristãs? Obrigado.

(Papa Francesco)

As irmãs dos Estados Unidos fizeram maravilhas no campo da educação, no campo da saúde. O povo dos Estados Unidos ama as irmãs: não sei quanto ama os padres, mas as irmãs ama-as…, ama-as tanto. E são valorosas, são mulheres valorosas, valorosas. Cada uma segue a sua Congregação, as suas regras; há diferenças, mas são valorosas e, por isso, senti a obrigação de agradecer pelo que fizeram. Uma pessoa importante do governo dos Estados Unidos disse-me nestes dias: «O que tenho de cultura, devo-o primariamente às irmãs». As irmãs têm escolas em todos os bairros – ricos, pobres –, trabalham com os pobres e nos hospitais... Esta era a primeira; a terceira… já me recordo! E a segunda?

(Sagrario Ruiz, de Apodaca)

Se se sente forte depois de ter estado nos Estados Unidos, com esta agenda e ter alcançado este sucesso...

(Papa Francisco)

Não sei se tive sucesso ou não. Mas tenho medo de mim mesmo, porque me sinto sempre – não sei com dizer – fraco, no sentido de não ter poder. Depois o poder é também uma coisa passageira: hoje existe, amanhã não... É importante se, com o poder, consegues fazer algum bem. E Jesus definiu assim o poder: o verdadeiro poder é servir, prestar serviço, fazer os serviços mais humildes. E eu tenho ainda de avançar por este caminho do serviço, porque sinto que não faço tudo o que devo fazer. Este é o sentido que tenho do poder.

A terceira pergunta: as mulheres sacerdote, isto não se pode fazer. O Papa São João Paulo II, em tempos de debate, depois de uma longa, longa reflexão, disse-o claramente. E não e porque as mulheres não tenham a capacidade. Senão veja: na Igreja são mais importantes as mulheres do que os homens, porque a Igreja é mulher; é a Igreja, não o Igreja; a Igreja é a esposa de Cristo, e Nossa Senhora é mais importante do que Papas, bispos e sacerdotes. Há uma coisa que tenho de reconhecer: estamos um pouco atrasados na elaboração duma teologia da mulher. Temos de avançar mais nesta teologia. Isto sim, é verdade! Obrigado.

(Padre Lombardi)

Agora, temos a última pergunta. Vem de Matilde Imberti, da «Radio France». E depois concluímos.

(Matilde Imberti, da «Radio France»)

O Santo Padre, nos Estados Unidos, tornou-se uma «star», uma estrela. É bom para a Igreja que o Papa seja uma estrela?

(Papa Francisco)

Sabes qual era o título que usavam os Papas, e que se deve usar? «Servo dos servos de Deus». É um pouco diferente de estrela! As estrelas são bonitas quando as olhamos; eu gosto de olhar para elas, quando o céu está sereno no Verão... Mas o Papa deve ser – deve ser! – o servo dos servos de Deus. Sim, nos mass-media, usa-se isso; mas há outra verdade: quantas “star” vimos nós, que depois se apagam e caem... É uma coisa passageira. Pelo contrário, ser servo dos servos de Deus, isto é belo! Não passa. Não sei que mais dizer. É assim que eu penso.

(Padre Lombardi)

Bem, terminamos a lista daqueles que se inscreveram... Assim, muito obrigado pela sua disponibilidade. Fizemos pelo menos 50 minutos de conversação e além disso foi uma coisa muito densa. Parabéns pela sua resistência na viagem e também nesta conversa connosco. E continuamos a acompanhá-lo: não acaba, com a viagem. Terminou esta viagem, mas temos o Sínodo, temos muitas outras coisas... E queremos continuar a acompanhá-lo com grande afecto, estima, apreço, esperando ajudá-lo no seu serviço dos servos de Deus.

(Papa Francisco)

Muito obrigado pelo vosso trabalho, pela vossa paciência, pela vossa benevolência. Obrigado. Estou ao vosso dispor. Rezo por vós, de verdade. Obrigado pela ajuda. Um voo agradável!

 



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