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VISITA PASTORAL DO PAPA FRANCISCO
 À PARÓQUIA ROMANA DE SÃO CRISPIM DE VITERBO EM LABARO

HOMILIA DO SANTO PADRE

 Domingo, 3 de março de 2019

[Multimídia]


 

Ouvimos no Evangelho que Jesus explica ao povo a sabedoria cristã, com parábolas. Por exemplo, um cego não pode guiar outro cego; depois, o discípulo não é maior do que o Mestre; ainda, não há uma árvore boa que produza um fruto mau. Assim, com estas parábolas, ensina as pessoas.

Gostaria de analisar apenas uma, que não repeti. Digo-a agora: [lê]: «Porque reparas no argueiro que está na vista do teu irmão, e não reparas na trave que está na tua própria vista? Como podes dizer ao teu irmão: “Irmão, deixa-me tirar o argueiro da tua vista”, tu que não vês a trave que está na tua? Hipócrita, tira primeiro a trave da tua vista e, então, verás para tirar o argueiro da vista do teu irmão». E com isto, o Senhor quer ensinar-nos a não criticar os outros, a não reparar nos defeitos dos outros: repara primeiro nos teus, nos teus defeitos. “Mas, Padre, eu não os tenho!” — Ah, muito bem! Garanto-te que se não te apercebes de os ter agora, encontrá-los-ás no Purgatório! É melhor vê-los neste mundo.

Todos temos defeitos, todos. Mas estamos habituados, um pouco por inércia, um pouco pela força de gravidade do egoísmo, a reparar nos defeitos alheios: nisto todos somos peritos. Vemos imediatamente os defeitos dos outros. E falamos deles. Pois falar mal dos outros parece bom, agrada-nos. Não, nesta paróquia talvez isso não aconteça [riem], mas noutras partes é muito comum. Acontece sempre assim: “Ah, como está?” — “Bem, muito bem, com este tempo, tudo está bem...” — “Mas viu aquele...?” E imediatamente [se cai nisto].

Não sei se ouvistes estas coisas, mas não é bom. E isto não é novo: já se fazia no tempo de Jesus. É uma coisa que, com o pecado original que temos, nos leva a condenar os outros, a condenar. E somos imediatamente especialistas em encontrar os aspectos maus dos outros, sem ver os nossos. E Jesus diz: “Tu condenas este por uma coisa mínima, e tu tens tantas faltas maiores, mas não as vês”. Isto é verdade: a nossa maldade não é muita, porque estamos habituados a não ver os nossos limites, a não ver os nossos defeitos, mas somos especialistas em ver os defeitos dos demais.

E Jesus diz-nos uma palavra muito má, muito feia: “Se percorrerdes esse caminho, sereis hipócritas”. É desagradável dizer hipócrita: Jesus dizia-o aos fariseus, aos doutores da lei, que pregavam uma coisa e faziam outra. Hipócrita. Hipócrita significa alguém que tem um pensamento duplo, uma opinião dupla: um diz isso abertamente e o outro secretamente, com a qual condena os outros. Significa ter uma maneira dupla de pensar, uma maneira dupla de se mostrar. Mostram-se como pessoas boas, perfeitas, e por detrás condenam. Por isso Jesus evita esta hipocrisia e aconselha-nos: “É melhor que tu repares nos teus defeitos e deixa que os outros vivam em paz. Não te intrometas na vida alheia: pensa na tua”.

E isto é uma coisa que não acaba ali: o coscuvilheiro não acaba com a coscuvilhice; o mexeriqueiro vai além, semeia discórdia, semeia inimizade, semeia o mal. Ouvi isto, não exagero: com a língua começam as guerras. Tu, falando mal dos outros, começas uma guerra. Um passo rumo à guerra, uma destruição. Pois é o mesmo destruir o outro com a língua ou com uma bomba atómica, é o mesmo. Tu destróis. E a língua tem o poder de destruir como uma bomba atómica. É muito potente. E não sou eu que o digo, é o apóstolo Tiago na sua Carta. Pegai na Bíblia e reparai nisto. É muito potente! É capaz de destruir. E com os insultos, com o falar mal dos outros começam muitas guerras: guerras domésticas — começa-se a gritar — guerra no bairro, no lugar de trabalho, na escola, na paróquia... Por isso Jesus diz: “Antes de falar mal dos outros, pega num espelho e olha para ti mesmo; repara nos teus defeitos e envergonha-te por os teres. E deste modo ficarás mudo sobre os defeitos dos demais”. “Não, Padre, é que muitas vezes há pessoas más, com tantos defeitos...”. Mas, está bem, sê corajoso, sê corajosa, e diz-lho na cara: “Tu és mau, tu és má, por estares a fazer isto e aquilo”. Di-lo diretamente, não pelas costas, por trás. Diretamente. “Mas não me quer ouvir”. Então di-lo a quem pode remediar a situação, a quem a pode corrigir, mas não com o mexerico, pois a bisbilhotice nada resolve, pelo contrário. Agrava a situação e leva-te à guerra.

[Daqui a pouco] começaremos a Quaresma: seria tão bom que cada um de nós, nesta Quaresma, refletisse sobre isto. Como me comporto eu com as pessoas? Como é o meu coração diante das pessoas? Sou um hipócrita, que faço um sorriso e depois pelas costas critico e destruo os outros? Sou um hipócrita, que sorrio e depois por trás critico e destruo com a minha língua? E se nós, no final da Quaresma, tivermos sido capazes de corrigir um pouco isto, e não criticarmos sempre os demais pelas costas, garanto-vos que a Ressurreição de Jesus se verá mais bela, maior entre nós. “Mas como, Padre, é muito difícil, porque vem-me espontâneo criticar os outros” — pode haver quem diga, pois é um costume que o diabo semeia entre nós. É verdade, não é fácil. Mas há dois remédios que ajudam muito. Antes de tudo, a oração. Se sentires vontade de “falar mal” do outro, de criticar alguém, reza por ele, reza por ela, e pede ao Senhor para resolver esse problema, e a ti, que te feche a boca. Primeiro remédio: a oração. Sem a oração nada podemos fazer. E segundo, há outro remédio, também ele muito prático como a prece: quando sentires vontade de falar mal de alguém, morde a língua. Com força! Pois assim ela incha e não poderás falar. [riem] Trata-se de um remédio prático, muito prático.

Pensai a sério no que diz Jesus: “Porque reparas nos defeitos dos outros e não vês os teus, que são maiores?”. Refleti bem. Pensai que este mau hábito é o princípio de tantas desuniões, de tantas guerras domésticas, guerras no bairro, guerras no lugar de trabalho, de tantas inimizades. Refleti sobre isto. E rezai ao Senhor. Rezai para que nos conceda a graça de não falar mal dos outros. E todos os dias conservai a dentadura para que esteja pronta para servir de segundo remédio!

O Senhor vos abençoe!

 



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