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CELEBRAÇÃO DA FESTA DE NOSSA SENHORA DE GUADALUPE
SANTA MISSA PELA AMÉRICA LATINA

HOMILIA DO PAPA FRANCISCO

Basílica Vaticana
Terça-feira, 12 de dezembro de 2017

[Multimídia]


 

«A minha alma glorifica ao Senhor, o meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador, porque olhou para a sua pobre serva» (Lc 1, 46-48). Assim tem início o cântico do Magnificat e através dele, Maria torna-se a primeira “pedagoga do Evangelho” (celam, Puebla, n. 290): recorda-nos as promessas feitas aos nossos pais e convida-nos a cantar a misericórdia do Senhor.

Maria ensina-nos que na arte da missão e da esperança, não são necessárias muitas palavras nem programas, o seu método é muito simples: caminhou e cantou.

Maria caminhou

O Evangelho apresenta-nos Maria desta forma depois do anúncio do Anjo. À pressa — mas sem ansiedade — caminhou rumo à casa de Isabel para a acompanhar na última fase da gravidez; à pressa caminhou rumo a Jesus quando o vinho das bodas acabou; e já com o cabelo grisalho devido ao passar dos anos, caminhou rumo ao Gólgota para permanecer aos pés da cruz; naquele limiar de obscuridade e dor, não se escondeu nem foi embora, caminhou para estar lá.

Caminhou até Tepeyac para acompanhar Juan Diego e continua a caminhar pelo Continente quando, por meio de uma imagem ou de um santinho, de uma vela ou de uma medalha, de um rosário ou uma Ave-Maria entra numa casa, na cela de uma prisão, na sala de um hospital, numa casa de repouso, numa escola, numa clínica para reabilitação... para dizer: “Porventura não estou aqui eu, que sou a tua mãe?” (Nican Mapohua, n. 119). Ela conhecia a proximidade mais do que qualquer outra pessoa. É uma mulher que caminha com delicadeza e ternura de mãe, faz-se receber na vida familiar, desata todos os nós dos muitos problemas que conseguimos causar, e ensina-nos a permanecer em pé no meio das tempestades.

Na escola de Maria aprendemos a estar a caminho para chegar lá onde devemos estar: aos pés e em pé no meio de muitas vidas que perderam, ou às quais roubaram, a esperança.

Na escola de Maria aprendemos a caminhar pelos bairros e pelas cidades, não com sapatos cómodos de soluções mágicas, respostas instantâneas e efeitos imediatos; não com promessas fantásticas de um pseudo-progresso que, pouco a pouco, só usurpa identidades culturais e familiares e esvazia os nossos povos do tecido vital que os amparou, e isto com o propósito presunçoso de estabelecer um pensamento único e uniforme.

Na escola de Maria aprendemos a caminhar pela cidade e alimentamos o nosso coração com a riqueza multicultural que habita o Continente; isto acontece quando somos capazes de ouvir aquele coração escondido que palpita nos nossos povos e que preserva — como uma pequena chama sob aparentes cinzas — o sentido de Deus e da sua transcendência, a sacralidade da vida, o respeito pela criação, os vínculos de solidariedade, a alegria da arte do viver bem e a capacidade de ser feliz e fazer festa incondicionalmente, então conseguimos entender o que é a América profunda (cf. Encontro com o Comité Diretivo do Celam, Colômbia, 7 de setembro de 2017).

Maria caminhou e Maria cantou

Maria caminha levando a alegria de quem canta as maravilhas que Deus realizou com a pequenez da sua serva. À sua passagem, como boa Mãe, suscita o cântico, dando voz a muitos que, de um modo ou de outro, sentiam que não podiam cantar. Dá a palavra a João — que exulta no ventre de sua mãe — dá a palavra a Isabel — que começa a abençoar — ao idoso Simeão — fazendo com que ele profetize e sonhe — ensina ao Verbo a balbuciar as suas primeiras palavras.

Na escola de Maria aprendemos que a sua vida não é marcada pelo protagonismo mas pela capacidade de fazer com que os outros sejam os protagonistas. Ela oferece coragem, ensina a falar e, sobretudo, encoraja a viver a audácia da fé e da esperança, tornando-se deste modo transparência do rosto do Senhor que mostra o seu poder convidando e chamando a participar na construção do seu templo vivo. Assim fez com o índio Juan Diego e com muitos outros aos quais deu voz, fazendo-os sair do anonimato, deu-lhes a conhecer o seu rosto e a sua história e tornou-os os seus protagonistas, protagonistas da nossa história de salvação. O Senhor não procura o aplauso egoísta nem a admiração mundana. A sua glória consiste em tornar os próprios filhos protagonistas da criação. Com coração de mãe, ela procura elevar e restituir dignidade a todos os que, por diversas razões e circunstâncias, foram deixados no abandono e no esquecimento.

Na escola de Maria aprendemos o protagonismo que não tem necessidade de humilhar, maltratar, desacreditar nem escarnecer os outros para se sentir válido ou importante; que não recorre à violência física nem psicológica para se sentir seguro e protegido. É o protagonismo que não tem medo da ternura nem da carícia, e que sabe que o seu rosto melhor é o serviço. Na sua escola aprendemos o protagonismo autêntico, a restituir dignidade a tudo o que decaiu e a fazê-lo com a força omnipotente do amor divino, que é a força irresistível da sua promessa de misericórdia.

Em Maria o Senhor desmente a tentação de dar protagonismo à força da intimidação e do poder, ao grito do mais forte ou de se fazer valer com base na mentira e na manipulação. Com Maria o Senhor ampara os crentes a fim de que os seus corações não endureçam e possam conhecer constantemente a força renovada e renovadora da solidariedade, capaz de ouvir o pulsar de Deus no coração dos homens e das mulheres dos nossos povos.

Maria, “pedagoga do Evangelho”, caminhou e cantou pelo nosso Continente e por isso a Virgem de Guadalupe não é recordada só como indígena, espanhola, hispânica ou afro-americana. É simplesmente latino-americana: Mãe de uma terra fecunda e generosa na qual todos nós, de um modo ou de outro, podemos encontrar-nos, desempenhando um papel de protagonista na construção do Templo sagrado da família de Deus.

Filho e irmão latino-americano, sem medo, canta e caminha como fez a tua Mãe.

 



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