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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

Num mar sem litoral

Quinta-feira, 20 de outubro de 2016

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 43 de 27 de outubro de 2016

Rezar, adorar, reconhecer-se pecadores: eis os três caminhos que abrem ao cristão o conhecimento e a compreensão do mistério de Deus. A reflexão do Pontífice inspirou-se na frase de São Paulo — tirada da carta aos Filipenses (3, 8) — proclamada no canto ao Evangelho: «Considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por cuja causa perdi todas as coisas. Eu as considero como esterco para poder ganhar a Cristo e ser encontrado nele». A vontade de «ganhar Cristo» é também «a graça» que o apóstolo pede para os Efésios no trecho da carta (3, 14-21) escolhida para a primeira leitura litúrgica. Trata-se de «um trecho de oração», explicou Francisco. Com efeito, Paulo ensina aos Efésios «este caminho» e «reza de joelhos: “Ajoelho-me diante do Pai, oro para que, com as suas gloriosas riquezas, ele vos fortaleça no íntimo do seu ser com poder, por meio do seu Espírito”».

Por conseguinte, a que o apóstolo invoca é a «graça de ser fortes, fortalecidos, mediante o Espírito». Mas por qual razão quer «que os Efésios sejam fortalecidos mediante o Espírito Santo?». A fim de que — responde o próprio Paulo — «Cristo habite por meio da fé nos vossos corações». Este «é o centro», evidenciou o Papa. Mas o apóstolo «não pára, vai em frente: “E assim, enraizados e alicerçados na caridade possais compreender Cristo com todos os santos ”». E desta compreensão a carta aos Efésios oferece esta explicação original: «Compreender com todos os santos a largura, o comprimento, a altura e a profundidade e conhecer o amor de Cristo que excede todo o conhecimento».

«Paulo nesta oração — reafirmou Francisco — vai em frente e imerge-se neste mar, neste mar sem fundo, sem margens, um mar imenso que é a pessoa de Cristo». E assim «reza para que o Pai conceda aos Efésios — reza também por nós — esta graça: conhecer Cristo».

Mas como se pode «conhecer Cristo» a fim de que ele seja «o verdadeiro ganho» diante do qual «todas as outras coisas são esterco»? É possível fazê-lo através do Evangelho. Com efeito, Cristo recordou o Papa, «está presente no Evangelho»: portanto, «lendo o Evangelho conhecemos Cristo». E «todos nós fazemos isto, pelo menos ouvimos o Evangelho quando vamos à missa». Certamente, pode-se conhecer Jesus também «estudando o catecismo: o catecismo ensina-nos quem é Cristo». Mas tudo isto — esclareceu Francisco — «não é suficiente. Para sermos capazes de compreender qual é a largura, o comprimento, a altura e a profundidade de Jesus Cristo é preciso entrar num contexto, primeiro, de oração, como faz Paulo, de joelhos: «Pai envia-me o Espírito para conhecer Jesus Cristo”».

Deste modo, o conhecimento vai além da superfície e penetra nas profundezas do mistério. «Nós — observou a este propósito o Papa — conhecemos o Menino Jesus, Jesus que cura os doentes, Jesus que prega, que faz milagres, que morre por nós e ressuscita. Sabemos tudo isto, mas não significa conhecer o mistério de Cristo». De facto, trata-se de «algo mais profundo e por este motivo é necessária a oração: “Pai, envia-me o teu Espírito para que eu possa conhecer Cristo”. É uma graça. É uma graça que o Pai concede».

Além da oração, há necessidade de adoração. Com efeito, Paulo, realçou Francisco «não só reza, adora este mistério que supera todos os conhecimentos e num contexto de adoração pede esta graça «àquele que tem o poder de fazer muito mais de quanto possamos pedir ou pensar de acordo com o poder que atua em nós: a ele, glória na Igreja em Cristo Jesus por todas as gerações”. Portanto, este é «um ato de adoração, de louvor: adorar». Porque «não se conhece o Senhor sem este hábito de adorar, de adorar em silêncio». Uma atitude que, para o Pontífice, nem sempre encontra espaço na vida do cristão. «Penso, se não me engano — confidenciou — que esta oração de adoração é a que menos conhecemos, e a que praticamos menos», como se se tratasse de «perder o tempo diante do Senhor, diante do mistério de Jesus Cristo». Ao contrário, deve ser redescoberto «o silêncio da adoração: ele é o Senhor que eu adoro».

Enfim, «para conhecer Cristo é necessário ter consciência de nós mesmos, ou seja, ter o hábito de se acusar a si mesmo», reconhecendo diante de Deus: «Sou pecador. Mas, não, sou pecador por definição, porque tu sabes as coisas que fiz e as coisas que sou capaz de fazer». A este propósito, Francisco fez referência ao capítulo 6 de Isaías, quando o profeta, no momento em que vê «o Senhor e todos os anjos que adoram o Senhor», exclama: «Ai de mim! Estou perdido! Pois sou um homem de lábios impuros!»: isto é, admite ser um pecador. Portanto, «não se pode adorar sem se acusar a si mesmo».

Em última análise, «para entrar neste mar sem fundo, sem margens, que é o mistério de Jesus Cristo», são necessárias as três atitudes às quais o Papa fez referência na conclusão: «A oração: “Pai, envia-me o Espírito para que ele me conduza a conhecer Jesus”. Segundo, a adoração ao mistério, entrar no mistério, adorando. E terceiro, acusar a si mesmo: “Sou um homem de lábios impuros”». Daqui o auspício de que «o Senhor nos conceda esta graça que Paulo pede aos Efésios também para nós, esta graça de conhecer e ganhar Cristo».

 



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