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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

Três saídas

 Sábado, 17 de setembro de 2016

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 38 de 22 de setembro de 2016

Os representantes pontifícios devem sair de si mesmos três vezes: fisicamente, porque estão sempre com as malas na mão; culturalmente, porque se devem inserir imediatamente no contexto ao qual são enviados; e depois com a oração e a adoração diante do tabernáculo. Concelebrando a missa com os participantes no encontro jubilar, na manhã de 17 de setembro, na capela da Casa Santa Marta, o Papa quis traçar o perfil espiritual de quantos desempenham o trabalho diplomático ao serviço da Santa Sé.

A meditação de Francisco começou com a parábola do semeador narrada por Lucas no Evangelho (8, 4-15). «Certo homem saiu para semear»: é uma figura, um ícone que Jesus nos oferece para compreender a vida cristã: o cristão é um homem, uma mulher em saída, sempre, para semear».

Por conseguinte, dirigindo-se diretamente aos presentes, o Papa disse que «de modo especial, também superlativo, vós sois homens em saída: algumas vezes disse-vos que a vossa vida é uma vida de ciganos, dois, três, quatro, cinco anos ali»; e depois, «quando se aprende bem a língua, um telefonema de Roma: “Ah, ouve, como estás?” — “Bem” — “Sabes, o Santo Padre, que gosta tanto de ti, pensou em ti para isto”. Porque estes telefonemas são feitos com “açúcar”, não é?».

O representante pontifício, prosseguiu o Pontífice, sabe que tem que estar sempre pronto para «fazer as malas e ir para outro lugar: deixar amigos, costumes, muitas coisas que fez». Deve continuar, «sair de si mesmo, sair daquele lugar para ir para outro e ali recomeçar».

Mas «há outra saída — afirmou o Papa — que o núncio faz e deve fazer: quando chega a um país, sair de si mesmo para conhecer, dialogar, estudar a cultura, o modo de pensar». E também deve «sair de si mesmo para ir às receções, muitas vezes tediosas, e ali ouvir». Naqueles contextos «semeia-se» e «a semente é sempre boa, o grão é bom, só é necessário estar um pouco atento para que o diabo não tenha lançado ali um pouco de joio; mas o grão é bom».

Poderíamos pensar que este «trabalho de recomeçar, fazer, compreender a cultura — continuou o Papa — é um trabalho muito funcional, até um trabalho administrativo» e, considerando que «na Igreja há tantos leigos bons», poderíamos perguntar: «Por que não o podem fazer eles?». À questão Francisco respondeu com uma confidência: «Há dias, falando sobre este assunto, ouvi que o secretário de Estado dizia: «Mas, reparai, nas receções, muitos que parecem ser superficiais procuram “o colarinho”».

«Todos vós sabeis bem — disse Francisco dirigindo-se ainda aos representantes pontifícios — o que fizestes a tantas almas; naquela mundanidade, mas sem assumir a mundanidade, aceitando as pessoas como são, ouvi-las, dialogar: também esta é uma saída de si mesmo do núncio, para compreender as pessoas, dialogar. É cruz».

Retomando a essência da palavra evangélica, Francisco observou como Jesus diz «que o semeador lança à terra o grão e depois repousa, porque é Deus que o faz germinar e crescer». Eis que «também o núncio deve sair de si mesmo em direção ao Senhor que faz crescer, que faz germinar a semente; e deve sair de si mesmo diante do tabernáculo, na oração, na adoração». Este, explicou, «é um grande testemunho: o núncio adora unicamente aquele que faz crescer, que dá a vida».

Por conseguinte, para o Papa estas são «as três saídas de um núncio». A primeira é «a saída física: fazer as malas, a vida de cigano». Depois há «a saída, digamos, cultural: aprender a cultura, aprender a língua». Porque, explicou ainda Francisco, naquele telefonema que o representante pontifício recebe para a comunicação de um novo cargo também se lhe pergunta quantas línguas fala. E talvez a resposta possa ser: «Eu falo bem o inglês, o francês, desenrasco-me com o espanhol». E poderia também ouvir dizer: «Ouve, o Papa pensou em enviar-te para o Japão!» — «Mas não conheço nem sequer uma letra deste japonês!» — «Não importa, aprendes!». A este propósito o Papa confidenciou aos presentes que se sentiu «edificado por um de vós que, antes de apresentar as credenciais, aprendeu em dois meses uma língua difícil e também a celebrar naquela língua: re-começou esta saída com entusiasmo, com alegria».

Por fim, a «terceira saída» é «a oração, a adoração». E este aspeto «é mais forte» naqueles que deixaram de estar ao serviço ativo, porque «é também uma tarefa de fraternidade»: eles rezam mais, devem rezar «mais pelos irmãos que estão ali, no mundo». Mas «também o núncio que está ativo» não deve «esquecer esta adoração, para que o dono faça crescer aquilo que ele semeou».

Portanto, para os representantes pontifícios estas são «três saídas e três modos de servir Jesus Cristo e a Igreja. A Igreja agradece-vos estas três saídas, agradece tanto». E, concluiu o Papa, «também eu, pessoalmente, vos quero agradecer: muitas vezes me admiro, quando recebo de manhã cedo, as vossas comunicações: “Como faz bem, este!”». Aos presentes, antes de retomar a celebração da missa, o Papa desejou precisamente que o Senhor conceda «a graça de estar sempre atualizados nestas três saídas, estas três saídas de vós próprios».

 


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