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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

Sob o manto

 Quinta-feira, 15 de setembro de 2016

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 38 de 22 de setembro de 2016

Num mundo de órfãos Maria é a Mãe que nos entende até ao fim e nos defende, também porque viveu na sua pele as mesmas humilhações que hoje, por exemplo, padecem as mães dos presos. Celebrando a missa na memória da Bem-Aventurada Virgem das Dores, o Papa sugeriu que nos refugiemos sempre, nos momentos difíceis, «sob o manto» da Mãe de Deus, repropondo assim «o conselho espiritual dos místicos russos» que o Ocidente relançou com a antífona Sub tuum praesidium.

Para a sua meditação sobre o «mistério da maternidade de Maria», o Pontífice inspirou-se na última Ceia: «À mesa, Jesus despede-se dos seus discípulos: há um ar de tristeza, todos sabiam que algo acabaria mal e faziam perguntas, estavam tristes». Mas «Jesus, na despedida, para lhes dar um pouco de coragem e para os preparar na esperança, diz-lhes: “Não vos entristeçais, o vosso coração não se amargure, não vos deixarei sós! Pedirei ao Pai que envie outro Paráclito, que vos acompanhará. Ele ensinar-vos-á tudo e recordar-vos-á tudo o que vos disse”». Portanto, o Senhor «promete enviar o Espírito para acompanhar os discípulos e a Igreja pelo caminho da história».

Mas Jesus «fala também do Pai». Com efeito, recordou o Papa, «naquele longo discurso com os discípulos fala do Pai», garantindo «que o Pai os ama e que do Pai receberão tudo o que lhe pedirem. Que confiem no Pai». Assim, explicou o Papa, dá «mais um passo: não só diz “não vos deixarei sós”, mas “não vos deixarei órfãos, dou-vos o Pai, o Pai está convosco, o meu Pai é o vosso Pai». Depois, acrescentou, «acontece tudo o que sabemos, após a Ceia: a humilhação, a prisão, a traição dos discípulos; Pedro nega Jesus, os outros fogem».

Referindo-se ao trecho do Evangelho de João (19, 25-27), Francisco disse que aos pés da cruz «só estava um discípulo com a Mãe de Jesus, Maria de Magdala e a outra Maria, uma parente». Ali, aos pés da cruz, «está Maria, Mãe de Jesus: todos a fitavam», talvez sussurrando: «Ela é a mãe deste bandido! É a mãe deste subversivo!». E Maria, acrescentou o Papa, «ouvia isto, sofria humilhações terríveis, e ouvia até as autoridades, alguns sacerdotes que Ela respeitava por serem sacerdotes», dizer a Jesus: «Tu que és tão bom, desce!». Maria, afirmou Francisco, ao lado do «seu filho nu sofria muito, mas não foi embora, não negou o Filho, porque era a sua carne».

Com uma confidência pessoal, o Papa recordou: «Aconteceu muitas vezes quando eu ia, em Buenos Aires, às prisões para visitar os encarcerados, ver a fila de mulheres que esperavam para entrar: eram mães, mas não se envergonhavam, a sua carne estava ali». Aquelas «mulheres sofriam não só a vergonha de estar ali», ouvindo dizer: «Olha aquela, o que terá feito o filho?». Aquelas mães «sofriam até as piores humilhações nas inspeções que lhes faziam antes de entrar, mas eram mães e iam encontrar a própria carne». Assim foi para Maria, que «estava ali com o Filho, com um grande sofrimento». E «naquele momento Jesus, o qual dissera que não os deixaria órfãos e falara do Pai, olha para a sua mãe e oferece-a a nós como mãe: “Eis a tua mãe!”». O Senhor «não nos deixa órfãos: nós cristãos temos uma mãe, a mesma de Jesus; temos um Pai, o mesmo de Jesus. Não somos órfãos». E Maria «dá-nos à luz naquele momento com tanta dor, é deveras um martírio: com o coração trespassado, aceita dar à luz todos nós naquela hora de dor. E a partir daquele momento torna-se nossa mãe, é nossa mãe, que cuida de nós e não se envergonha de nós: defende-nos».

«Os místicos russos dos primeiros séculos da Igreja davam um conselho aos seus discípulos, os jovens monges: no momento das turbulências espirituais refugiai-vos sob o manto da santa Mãe de Deus. Ali o diabo não pode entrar, porque Ela é mãe, e como mãe defende». Depois, «o Ocidente tomou este conselho e dele fez a primeira antífona mariana Sub tuum praesidium: sob o teu manto, sob a tua proteção, ó Mãe, estamos seguros». «Hoje é a memória do momento em que Nossa Senhora nos deu à luz — prosseguiu — e até hoje Ela é fiel a este parto e continuará a sê-lo». E «num mundo que podemos chamar “órfão”, num mundo que sofre a crise de uma grande orfandade, talvez a nossa ajuda seja dizer: “Olha para a tua mãe!”». Pois temos uma mãe «que nos defende, ensina e acompanha, que não se envergonha dos nossos pecados porque é mãe».

Concluindo, o Pontífice rezou para «que o Espírito Santo, este amigo, este companheiro de caminho, o Paráclito advogado que o Senhor nos enviou, nos faça compreender este grande mistério da maternidade de Maria».

 


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