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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

Na raiz da unidade

 Segunda-feira, 12 de setembro de 2016

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 37 de 15 de setembro de 2016

«Peço-vos que façais todo o possível para não destruir a Igreja com as divisões, sejam ideológicas, de cobiça, de ambição ou de ciúmes». As palavras que Paulo escreveu aos Coríntios poderiam ser dirigidas também «a todos nós, à Igreja de hoje», explicou citando um trecho da primeira leitura: «Irmãos, não vos louvo, porque vos congregais não para melhor, e sim para pior» e antes de tudo «ouço dizer que existem divisões entre vós». Ao repropor precisamente o texto paulino Francisco pediu «sobretudo para rezar e preservar a fonte, a raiz própria da unidade da Igreja, que é o corpo de Cristo, e que todos os dias celebremos o seu sacrifício na Eucaristia». O demónio, explicou, «tem duas armas potentíssimas para destruir a Igreja: as divisões e o dinheiro».

Mas antes de desenvolver a sua reflexão sobre o trecho de são Paulo proposto pela liturgia, o Papa quis indicar um testemunho concreto, simples, direto. «Hoje o Senhor faz-nos um graça, uma graça de memória», disse precisamente no início da homilia apresentando deste modo D. Arturo Antonio Szymanski Ramírez, «um irmão bispo que participou em todas as fases do concílio: foi nomeado bispo dois anos antes». O idoso prelado mexicano concelebrou com o Pontífice a missa e com ele trocou o abraço de paz. Já na sexta-feira passada o Papa o tinha recebido em audiência. «Com noventa e cinco anos continua a trabalhar, ajudando o pároco» disse Francisco, convidando expressamente a agradecer ao Senhor «por esta graça da memória».

D. Szymanski Ramírez, arcebispo emérito de San Luis Potosí, nasceu a 17 de janeiro de 1922. Sacerdote desde 1947 e bispo desde 1960, participou nos trabalhos do concílio Vaticano II sentando-se «devido ao seu nome de origem eslava» entre o cardeal Stefan Wyszyński e D. Karol Wojtyła, e tendo inclusive contactos frequentes com Joseph Ratzinger. Depois de ter deixado o encargo de primeiro bispo de Sant Luis Potosí a 20 de janeiro de 1999, D. Szymanski Ramírez nunca interrompeu o seu humilde serviço no meio da sua gente. Para a sua meditação Francisco inspirou-se no trecho da primeira carta de são Paulo aos Coríntios (11, 17-26). O apostólo, realçou, repreende os seus interlocutores «porque há divisões» entre eles: «Repreende-os pelas divisões que existem ali, estão divididos: discutem, um por um lado, outro por outro». E «a divisão destrói o tecido da Igreja». Aliás, explicou o Papa, «o demónio possui duas armas potentíssimas para destruir a Igreja: as divisões e o dinheiro». E «com estas duas armas destrói». Mas «isto desde o início: as divisões na Igreja existiram desde o início; também a cobiça pelo dinheiro».

A este propósito o Pontífice recordou precisamente as lutas que, entre «divisões ideológicas, teológicas, dilaceravam a Igreja: o demónio semeia ciúmes, ambições, ideias, mas para dividir! Ou semeia avidez: pensemos em Ananias e Safira, nos primeiros tempos». Porque, frisou, «desde os primeiros tempos as divisões existiram e o que provoca a divisão na Igreja é a destruição: as divisões destroem, como uma guerra: depois de uma guerra tudo fica destruído e o demónio vai embora contente».

Mas «nós, ingénuos, fazemos o jogo dele» afirmou Francisco, acrescentando: «E diria mais: é um guerra suja a das divisões, é como um terrorismo. Mas quero dar um exemplo claro: quando numa comunidade cristã – seja ela paróquia, colégio ou instituição – se mexerica, lança-se uma bomba para destruir o próximo»; deste modo «o outro é destruído, eu estou bem e sobressaio: é o terrorismo dos mexericos!». Também o apóstolo Tiago, prosseguiu o Papa, «já afirmava: a língua mata; assim, lança a bomba, destrói e permaneçe».

«Há divisões entre vós»: Francisco reiterou estas palavras de Paulo aos fiéis de Coríntio. E, prosseguiu, «as divisões na Igreja não deixam que o reino de Deus cresça; não deixam que o Senhor se mostre bem, como é». Ao contrário, «as divisões fazem com que se veja uma parte contra a outra: sempre contra, não há o óleo da unidade, o bálsamo da unidade». «Mas o demónio vai além» admoestou Francisco, especificando: «Não só na comunidade cristã, vai mesmo à raiz da unidade cristã». É o que «acontece, na cidade de Corinto, aos Coríntios: Paulo repreende-os porque as divisões chegam precisamente à raiz da unidade, ou seja, à celebração eucarística». Neste caso «os ricos trazem algo para comer, para festejar; os pobres não, um pouco de pão e nada mais na própria celebração». O apóstolo escreve: «Não tendes, por acaso, as vossas casas para comer e para beber? Ou quereis lançar desprezo sobre a Igreja de Deus e humilhar quem não possui nada?».

Eis então que Paulo, explicou o Papa, «pára e faz memória: “Tende cuidado. Com efeito, recebi do Senhor o que por minha vez vos transmiti. O Senhor Jesus, na noite em que foi atraiçoado...”; e narra, ouvimos anteriormente, a instituição da Eucaristia, a primeira celebração eucarística. Aliás, afirmou Francisco, «a raiz da unidade encontra-se naquela celebração eucarística». E «o Senhor rezou ao Pai para que “fossem um, como nós”, rezou pela unidade». Mas «o demónio tenta destruir até ali».

A este ponto Francisco lançou o seu apelo a «fazer todo o possível para não destruir a Igreja com as divisões, quer sejam ideológicas, de avidez, de ambição ou ciúmes». E «sobretudo pediu para rezar e preservar a fonte, a raiz própria da unidade da Igreja, que é o corpo de Cristo, e que nós, todos os dias, celebremos o seu sacrifício na Eucaristia». As palavras que Paulo escreve aos Coríntios são válidas também para nós: pede que nos reunamos «para o melhor» e não «para o pior», admoestando contra o perigo de ser uma «Igreja reunida toda para o pior, para as divisões: para o pior, para sujar o corpo de Cristo, na celebração eucarística». E «Paulo, noutro trecho, diz-nos a mesma coisa: “Quem come e bebe o corpo e o sangue de Cristo de forma indigna, come e bebe a própria condenação». Concluindo Francisco pediu, na oração, «ao Senhor a unidade da Igreja, para que não haja divisões». E «a unidade também na raiz da Igreja, que é precisamente o sacrifício de Cristo, que todos os dias celebramos».

 



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