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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE

Medo das surpresas

Quinta-feira, 20 de Novembro de 2014

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 48 de 27 de Novembro de 2014

Também hoje Jesus chora «muitas vezes» pela sua Igreja, como fez diante das portas fechadas de Jerusalém. O Papa evocou o Evangelho da liturgia — tirado do cap. 19 de Lucas (41-44) — para recordar que os cristãos continuam a fechar as portas ao Senhor, com medo das suas «surpresas» que subvertem certezas e seguranças consolidadas. Na realidade, «temos medo da conversão, porque converter-se significa deixar que o Senhor nos guie».

A reflexão do Pontífice começou com a imagem de Jesus em lágrimas às portas de Jerusalém. Ele «chorou diante da cidade, perante o seu fechamento». Assim como — frisou Francisco — é o fechamento do livro «selado com sete sigilos» que leva o apóstolo João a chorar, no trecho do Apocalipse (5, 1-10) proposto pela primeira leitura.

«O que leva Jesus a chorar é o fechamento do coração da cidade, do povo eleito», que «não tinha tempo para lhe abrir a porta» porque «vivia muito ocupada, satisfeita consigo mesma». E ainda hoje «Jesus continua a bater à porta, como bateu à porta do coração de Jerusalém: à porta dos seus irmãos e irmãs, do nosso coração, da sua Igreja». Na realidade, «Jerusalém sentia-se feliz com a sua vida e não precisava do Senhor», da sua salvação. Por isso, «fechou o seu coração ao Senhor. E o Senhor chora diante de Jerusalém, como fez perante o sepulcro fechado do seu amigo Lázaro. Jerusalém estava morta».

O pranto de Jesus «sobre a cidade eleita» é o seu choro «sobre a Igreja», «sobre nós». Mas por que motivo «Jerusalém não recebeu o Senhor? Porque se sentia tranquila com o que possuía, não queria problemas». Assim, diante das suas portas Jesus exclama: «Se também tu, pelo menos neste dia que te é dado, conhecesses o que te pode trazer a paz! Mas isto está oculto aos teus olhos». A cidade «tinha medo de ser visitada pelo Senhor, temia a gratuitidade da visita do Senhor. Sentia-se segura daquilo que ela mesma podia gerir».

Trata-se de uma atitude que também hoje existe entre os cristãos. «Sentimo-nos seguros daquilo que podemos gerir. Mas a visita do Senhor, as suas surpresas, não as podemos gerir. Era isto que Jerusalém temia: ser salva através das surpresas do Senhor. Temia o Senhor, o seu esposo, o seu amado», pois «quando Ele visita o seu povo traz alegria e conversão. E todos nós temos medo»: não da «alegria», mas «da alegria do Senhor, pois não a podemos controlar».

A este propósito, o Papa recordou «as lamentações» que o coro entoa na Sexta-Feira Santa, na liturgia da adoração da Cruz: «Como está sozinha a cidade, outrora rica de povos. Ficou só como uma viúva, submetida a trabalhos forçados». Depois, evocou o diálogo do Senhor com a cidade para salientar que «o preço daquela rejeição» é a Cruz: o «preço para nos mostrar o amor de Jesus, que o levou a chorar e que ainda hoje o faz chorar muitas vezes pela sua Igreja».

Naquela época Jerusalém «vivia tranquila e feliz; o templo funcionava, os sacerdotes ofereciam os sacrifícios, os fiéis faziam peregrinações, os doutores da lei organizavam tudo»: «todos os mandamentos eram claros». No entanto, «mantinha a porta fechada». Francisco exortou a um exame de consciência, a partir desta pergunta: «Hoje nós cristãos, que conhecemos a fé, o catecismo, vamos à missa todos os domingos, nós cristãos, pastores, estamos felizes connosco?».

Corremos o risco de nos sentirmos satisfeitos, pois «temos tudo organizado, não precisamos de novas visitas do Senhor». Mas Jesus «continua a bater à porta de cada um de nós, da sua Igreja, dos pastores da Igreja». E se «a porta do nosso coração, da Igreja, dos pastores, não se abre, o Senhor chora até hoje», como fez diante de Jerusalém. Jesus contempla a cidade e «chora porque ela não abre a porta, porque tem medo das suas surpresas». E concluiu com um convite: «Pensemos em nós: como vivemos este momento diante de Deus?».

 



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