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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE

A nossa esperança nas mãos seguras de Deus

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 46 de 14 de Novembro de 2013

 

Nas mãos de Deus. Nelas está a nossa segurança: são mãos cobertas de chagas por amor, que nos guiam pelos caminhos da vida e não da morte, para onde, ao contrário, nos conduz a inveja. Foi este o sentido da reflexão proposta pelo Papa Francisco na manhã de terça-feira, 12 de Novembro, durante a missa celebrada na capela de Santa Marta.

A primeira leitura, observou o Santo Padre introduzindo a homilia, recorda que Deus «criou o homem para a incorruptibilidade» (Sb 2, 23-3, 9). Ele «criou-nos e é o nosso Pai. Fez-nos bons como Ele, mais bonitos do que os anjos; maiores do que os anjos. Mas, por inveja do diabo, a morte entrou no mundo».

Na realidade, prosseguiu o bispo de Roma, «todos experimentamos a morte». Como se explica? «O Senhor — respondeu — não abandona a sua obra», como explica o texto do livro da Sabedoria: «As almas dos justos, ao contrário, estão nas mãos de Deus». Todos «devemos passar pela morte. Mas há uma diferença entre passar por esta experiência através da pertença às mãos do diabo ou pelas mãos de Deus».

Deus não nos abandonou. Na Bíblia lê-se o que ele diz ao seu povo: «Caminhei contigo». Deus comporta-se — frisou o Papa — como «um pai que leva o filho pela mão. São as mãos de Deus que nos acompanham no caminho». O Pai ensina-nos a caminhar, a ir «pela estrada da vida e da salvação». «São as mãos de Deus que nos acariciam no momento da dor, que nos confortam. É o nosso Pai que nos acaricia, que nos ama muito. E nestas carícias muitas vezes está o perdão». As mãos de Deus, prosseguiu o Santo Padre, «curam também os nossos males espirituais. Pensemos nas mãos de Jesus quando tocava os doentes e os curava. São as mãos de Deus. Curam-nos. Não consigo imaginar Deus que nos dá uma bofetada. Não o imagino: repreende-nos sim, porque o faz; mas nunca nos fere, jamais! Acaricia-nos. Até quando nos deve repreender, fá-lo com uma carícia, porque é Pai».

«As almas dos justos estão nas mãos de Deus», repetiu o Pontífice, concluindo: «Pensemos nas mãos de Deus que nos criou como um artesão. Deu-nos a saúde eterna. São mãos cheias de chagas. Ele acompanha-nos na estrada da vida. Confiemo-nos às mãos de Deus como uma criança se entrega às mãos do seu pai», porque são mãos seguras.

Na missa celebrada na manhã de segunda-feira, 11 de Novembro, a reflexão do Pontífice inspirou-se na leitura de um trecho do Evangelho de Lucas (17, 1-6): «Se o teu irmão cometer uma culpa, repreende-o; mas se se arrepender, perdoa-o». O mesmo Evangelho contém outro trecho no qual, frisou o Bispo de Roma, Jesus diz: «Ai daquele que causar escândalos». Jesus, explicou, «não fala de pecado mas de escândalo» e diz: «Melhor seria que lhe atassem ao pescoço uma pedra de moinho e o lançassem ao mar do que escandalizar um só destes pequeninos. Tende cuidado convosco!». Depois, o Pontífice perguntou-se: «Mas que diferença há entre pecar e escandalizar? Qual é a diferença entre cometer um pecado e fazer algo que causa escândalo e faz mal, muito mal?». A diferença, disse, é que «quem peca e se arrepende pede perdão, sente-se frágil, sente-se filho de Deus, humilha-se e pede a salvação de Jesus. Mas quem dá escândalo não se arrepende e continua a pecar e finge que é cristão». É como se levasse uma «vida dupla» e, acrescentou, «a vida dupla de um cristão faz muito mal».

«Onde há engano — comentou o Papa Francisco — não há o Espírito de Deus. Esta é a diferença entre pecador e corrupto. Quem leva uma vida dupla é um corrupto. Quem peca, ao contrário, gostaria de não pecar, mas é débil ou encontra-se numa condição na qual não pode achar uma solução mas vai ter com o Senhor e pede perdão. A este o Senhor ama, acompanha-o, está com ele. E nós devemos dizer, todos nós que estamos aqui: pecadores sim, corruptos não». Os corruptos, explicou o Papa, não sabem o que é a humildade. Jesus comparava-os com os sepulcros caiados: bonitos por fora mas dentro cheios de ossos podres. «E um cristão que se vangloria de ser cristão mas não leva uma vida cristã — frisou — é um corrupto.

Todos conhecemos alguém que «está nesta situação e sabemos — acrescentou — quanto mal fazem à Igreja os cristãos corruptos, os sacerdotes corruptos. Quanto mal fazem à Igreja! Não vivem no espírito do Evangelho, mas no espírito da mundanidade. E são Paulo diz claramente aos romanos: Não vos conformeis com este mundo (cf. Rm 12, 2). Mas no texto original é ainda mais forte: não entreis nos esquemas deste mundo, nos parâmetros deste mundo, porque são precisamente estes, esta mundanidade, que levam à vida dupla».

Na conclusão o Papa disse: «Uma podridão envernizada: esta é a vida do corrupto. E a estes Jesus não lhes chamava simplesmente pecadores. Mas dizia-lhes: hipócritas». Jesus, recordou ainda, perdoa sempre, não se cansa de perdoar. A única condição que pede é que não queiramos levar esta vida dupla: «Peçamos hoje ao Senhor que evitemos todos os enganos, que nos reconheçamos pecadores. Pecadores sim, corruptos não».

Na missa celebrada na sexta-feira, 8 de Novembro, o Papa Francisco — ao propor uma reflexão sobre a figura do administrador desonesto descrita no trecho litúrgico do Evangelho de Lucas (16, 1-8) frisou que os administradores corruptos «devotos da deusa ilegalidade» cometem um pecado grave contra a dignidade» e dão de comer aos próprios filhos «pão sujo»: a esta «astúcia mundana» deve-se responder com a «astúcia cristã» que é «um dom do Espírito Santo».

«O Senhor — disse o Papa — volta a falar-nos do espírito do mundo, da mundanidade; como age esta mundanidade e quanto é perigosa. E Jesus, precisamente ele, na oração depois da ceia da quinta-feira santa, rezava ao Pai para que os seus discípulos não caíssem na mundanidade», no espírito do mundo.

O administrador descrito na página evangélica é «um exemplo de mundanidade. Algum de vós — fez notar o Pontífice — poderá dizer: mas este homem fez o que todos fazem». Na realidade, «nem todos!»; este é o modo de agir de «alguns administradores do governo. Talvez não sejam muitos». Em suma, «é um pouco daquela atitude do caminho mais breve, mais cómodo para ganhar a vida». O Evangelho narra que o homem rico «elogiou aquele administrador desonesto». E este — comentou o Papa — «é um louvor à ilegalidade. O costume da ilegalidade é mundano e muito pecador». Certamente, é um hábito que nada tem a ver com Deus.

Com efeito, prosseguiu, «Deus deu-nos este mandamento: levar o pão para casa com o nosso trabalho honesto». Ao contrário, «este administrador dava aos seus filhos pão sujo. E os seus filhos, talvez educados em colégios caros, talvez crescidos em ambientes cultos, tinham recebido do seu pai sujidade como alimento. Porque o seu pai levando para casa pão sujo tinha perdido a dignidade. E este é um pecado grave». Talvez, especificou o Papa, «se comece com um pequeno suborno, mas é como a droga». E mesmo se o primeiro suborno é «pequeno, depois vem outro e outro ainda; e acaba-se na doença da dependência da ilegalidade».

Mas há outro caminho, o da «astúcia cristã» — «entre aspas», disse o Papa — que permite «fazer as coisas com um pouco de rapidez mas não com o espírito do mundo. O próprio Cristo o disse: astutos como as serpentes, puros como as pombas». Combinar «estas duas» realidades é «uma graça» e «um dom do Espírito Santo». Por isso, devemos pedir ao Senhor que sejamos capazes de praticar a «honestidade na vida, aquela honestidade que nos faz trabalhar com rectidão, sem entrar nesse círculo».

Deus é um pai «que não gosta de perder». Ele procura, com alegria e «com esmero de amor», as pessoas perdidas, suscitando muitas vezes «a música da hipocrisia murmuradora» dos conservadores. Foi a chave de leitura sugerida pelo Papa Francisco na homilia da missa celebrada na manhã de quinta-feira, 7 de Novembro.

O Pontífice iniciou a sua meditação descrevendo precisamente a atitude dos fariseus e dos escribas que estudavam Jesus «para compreender as suas acções», escandalizando-se com as «coisas que ele fazia. E escandalizados murmuravam contra ele: mas este homem é um perigo!». Escribas e fariseus, explicou o Santo Padre, pensavam que Jesus era um perigo. Eis porque na sexta-feira santa «pedem a sua crucificação». E ainda antes — recordou — chegaram a dizer: «É melhor que um só homem morra pelo povo e que não cheguem os romanos. Este homem é um perigo!».

O que mais os escandalizava, rematou o Papa Francisco, era ver Jesus «almoçar e jantar com os publicanos e os pecadores, falar com eles». Disto nascia a reacção: «Este homem ofende a Deus, desconsagra o ministério do profeta que é um ministério sagrado»; e «desconsagra-o para se aproximar destas pessoas».

 

 



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